2013, dia 28, fevereiro.

quinta-feira, 28|02|2013

E quando a sua vida fica maluca, dando pau na matrix, tendo revelações gigantescas, incapazes de serem absorvidas na velocidade que se apresentam, tropeçando em coincidências absurdas a torto e a direito? E quando as pessoas que você conhece se desfiguram, se tornam outras pessoas? E quando o seu dia é amputado de pedaços antigos e fica com vagas a serem prenchidas por novas expectativas? E quando você descobre que estava presente em lugares e mentes que nem imaginava? E quando você parece que está num país das maravilhas, tentando encontrar referenciais e só consegue informações com um gato risonho e tem dificuldades de conservar a sua cabeça? E quando o seu cenário, seja interno, seja externo, se assemelha a uma pintura surrealista cheia de muletas e relógios derretidos? O que é isso, um “feliz ano novo”? Uma sensação de estar se tornando um Neo ou um Dr. Manhattan, uma dúvida se o ano é feliz, mas certamente é novo.


Controle Remoto

segunda-feira, 7|05|2012

Está na hora de desligar. De tirar da tomada os aparelhos que nunca são acionados e ficam o tempo todo em stand by. De simplificar, de aceitar o que não funciona direito e procurar coisas que talvez não sejam tão completas, mas que ao menos funcionem bem. É hora de trocar o videocassete VHS por um Blue-Ray, mesmo sabendo que o aparelho novo nunca vai gravar imagens como o antigo gravador de fita fazia. Talvez seja mesmo hora de parar de gravar e apenas assistir.


Onde Está o Meu Deus Agora?

quinta-feira, 16|06|2011

Nunca entendi esta história de estarmos em dívida com Jesus porque ele pagou pelos nossos pecados. Pagou sendo crucificado? Qual é a moeda de Deus? Olha, se Deus me esclarecesse esta história, se eu soubesse que o certo é ter uma vida como a dos crentes, eu faria isso de bom grado. Mas Ele não diz o que quer. Cristãos dizem que Ele mandou recado num livro cheio de contradições e barbaridades. Eu gostaria muito de esclarecer alguns pontos desta crença com o Próprio (e não por seus autoproclamados procuradores, que citam o próprio livro como argumento de que o livro é quente).

Se o Deus cristão existe,  falta-Lhe traquejo social.

Num insulto aos crentes, a Bíblia dá aos arrebanhadores de fiéis uma orientação precisa para definir o seu público-alvo: “Bem-aventurados os pobres de espírito, porque deles é o reino dos céus”. E lá foram Paulos, Bentos, Edires, Soares e tantos outros Hernandes, atrás dos pobres de espírito, mas não de capital. Mesmo se eu tivesse tendências a ser crente, escolheria outra religião – uma que não me xingasse na cara dura. Basta fazer uma busca no Google para constatar o contorcionismo semântico que os crentes usam pra justificar a frase, sem se sentirem ofendidos. Aliás, para cada besteira que a Bíblia proclama, há todo um raciocínio mirabolante dos seus adeptos para justificá-la.

Um dos absurdos da Bíblia é dizer que, se você fez merda, Deus se vingará até as suas terceira e quarta gerações. Bem, segundo os preceitos bíblicos, minha vida é uma coletânea de merdas. Mas eu não tive filhos; meu único irmão também não. Não vai ter terceira nem quarta gerações – aliás, nem primeira ou segunda. E minha vida é ótima, quase sabática. Terei logrado Deus?


O Futuro do Seu Passado

quinta-feira, 9|06|2011

Tenho a impressão que, em vários idiomas, existe uma certa imprecisão ao descrever o tempo exato de algumas ações. Juntar verbos de diferentes tempos para se conseguir o efeito, parece uma gambiarra mal-ajambrada pra dar um jeito de se expressar. Gosto da grande quantidade de formas verbais que existem na língua portuguesa.

Gosto em especial dos subjuntivos e tenho um carinho especial pelo futuro do pretérito. Será que em algum outro idioma deram este nome para este tempo verbal? É uma obra prima do paradoxo! Quem será que o batizou? E acho que é mais do que a expressão de uma hipótese – é uma expressão filosófica: qual é o futuro do seu passado? Mais ainda, é a expressão de uma realidade quântica, pois, se você faria, em alguma dimensão paralela você fez.


Os Cultivadores de Tristezas

quinta-feira, 2|06|2011

Quanto mais conheço histórias de pessoas, leio livros, ouço músicas e converso, mais me convenço de que, se você tem boa saúde, nenhum problema químico no corpo, recursos financeiros para lhe prover o básico e ausência de histórico de violência em sua vida, ser alegre ou triste é apenas uma questão de escolha. E me surpreendo da quantidade de pessoas que optam pela tristeza.

Talvez seja porque haja um tendência do ser humano de achar que a tristeza tem mais profundidade que a alegria. Que a dor constrói, enquanto a alegria é fútil. Que o sofrimento alcança as profundezas enquanto o regojizo permanece boiando à superfície. Quando se deparam, seja num livro ou filme, com uma história de alguém fudido que deu a volta por cima e termina bem, já a rotula de “mais uma historinha de superação pessoal” ou “final feliz açucarado”. Quando o enredo começa numa desgraceira só e termina pior ainda, logo é reconhecido como “puta história do caralho”, e ouve-se coisas como “sem concessões a resoluções fáceis”, “espelho da realidade” e “radiografia da profundidade da alma humana”.

Pois é, ser melancólico é muito legal; ser feliz é sinal que você tem problemas. A expressão “bobo alegre” é de uso generalizado, mas nunca se ouviu falar em algum “bobo triste”. Não existem “bobos tristes” – se está triste, é sinal de que é esperto. Aliás, os espertos tristes frequentemente utilizam a expressão “alegre” pejorativamente: “esse cara é alegre demais”, no sentido de que é tão feliz que chega a ser irritante. Ah, ok – o seu mal humor, a sua depressão não são.

Existem almas felizes que não se sentem injustiçadas pela vida, por pior que seja e almas tristes que não tem gratidão pela vida que levam, por melhor que seja.


Rir para chorar.

quinta-feira, 26|05|2011

Conheci pessoas que se gabavam de não chorar. Achavam, equivocadamente, que continham o choro, que conseguiam evitar as lágrimas. Mas ninguém evita lágrimas – é impossível. A força que elas saem é sobre-humana, jorram numa pressão de milhões de bars, empurradas pela sua alma.

O que estas pessoas conseguem conter é aquilo que causa as lágrimas, e isto não é motivo para se gabar. Elas evitam as experiências que causam emoções capazes de provocar lágrimas. Sentem-se seguras e no controle de si. O que não sabem é que, quanto mais emoções se sente, mais se aprende a lidar com elas. Aí sim, obtemos segurança real; do contrário, somos como o menino preso dentro de uma bolha, em ambiente esterilizado, tentando evitar qualquer germe, devido à sua imensa vulnerabilidade.

Quanto mais dilatada for a distância entre o nosso choro e nosso gôzo, mais forte nos tornamos, maior o domínio do campo das emoções. Quem evita chorar, também não consegue rir, e é no espaço entre o choro e a gargalhada que a vida acontece.


Apertado.

segunda-feira, 16|07|2007

Em preparo…